Num tempo em que as antiguidades ainda não eram tão cobiçadas como são hoje, o meu pai, que viajava pelo Norte de Portugal com frequência em trabalho, tinha uma grande paixão por velharias e para desespero da minha mãe regressava frequentemente das suas viagens com móveis e peças de faiança tradicionais que ainda hoje adornam a cozinha lá de casa com as suas cores brilhantes e os seus motivos florais e geométricos. A maior parte destas peças pertencerão ao que vulgarmente se designa como cerâmica de Alcobaça, embora nenhuma das peças em casa dos meus pais tenha qualquer tipo de marca, o que não era fora de vulgar.
Eram peças em faiança, uma técnica cerâmica que terá sido inventada na cidade italiana de Faenza (daí o seu nome em português) e que consiste grosso modo na sobreposição de uma camada de chumbo e estanho sobre a peça de barro cru, o que introduzia nas peças uma base branca opaca, próxima do papel, que fazia sobressair as cores dos motivos pintados com argilas coloridas, óxidos ou minerais que já eram usados para a pintura de madeiras ou pedras. Embora se date a “descoberta” destes processos do Renascimento, há vestígios de técnicas similares na China, no Antigo Egito e em ladrilhos da Idade Média.

Este prato, que serviu de inspiração ao padrão usado na camisola e no gorro Faiança, apresenta um padrão geométrico reminiscente dos tartans escoceses. Para tricotar o padrão à máquina, deparei-me com vários desafios: riscas de diferentes espessuras, riscas irregulares, riscas horizontais e verticais, mais do que duas cores em cada carreira (nas máquinas de tricotar só conseguimos trabalhar duas cores em cada carreira) …
As próprias cores tiveram de ser um pouco “domesticadas”, o verde vivo do original foi substituído por um verde mais “velho” para atenuar um pouco o contraste. As riscas foram trabalhadas em diferentes espessuras para manter o ritmo gráfico do padrão e, para criar a ilusão de irregularidade, as riscas verdes e vermelhas foram tricotadas em jacquard, com conjuntos alternados de 4 agulhas a cada 2 carreiras. As riscas verticais foram introduzidas à mão, bordadas por cima das riscas tricotadas na máquina. Estas últimas poderiam ter sido inseridas de acordo com o mesmo método usado para desenhar os losangos da camisola Aletria, mas a quantidade de cores e de riscas tornava o trabalho demasiadamente moroso. O padrão do gorro tem mais elementos, mas o da camisola foi deixado propositadamente mais despojado.
My father, who traveled frequently through the North of Portugal on business, had a great passion for antiques and – much to my mother’s dismay – would frequently come home from his travels with old furniture and traditional pottery pieces that even today are hanging in my parent’s kitchen exhibiting their bright colors and their floral and geometric motifs. These earthenware pieces, which in Portuguese are named after the Italian town where the particular technique in which they are produced was invented – “faiança” for Faenza – present strong colors on a clear background thanks to a layer of lead and tin that creates an opaque white layer, similar to paper, which highlighted the colors of the motifs painted with colored clays, oxides or minerals that were already used for painting wood or stones. Although the “discovery” of this technique is dated from the Renaissance period, there are traces of similar techniques in China, the Ancient Egypt as well as tiles from the Middle Ages.
The particular plate that inspired the pattern used on the Faiança sweater and hat is reminiscent of Scottish tartans and to translate it to machine knitting I came across several challenges: different thickness stripes, irregular stripes, horizontal and vertical stripes, more than 2 colors in each row (in machine knitting we can only work 2 colors in each row)… The colors too had to be slightly tamed, the original bright green was replaced by a darker shade to soften the contrast a little. The stripes were worked in different thicknesses to maintain the graphic rhythm of the pattern and, to create the illusion of irregularity, the green and red stripes were knitted in jacquard, alternating sets of 4 needles every 2 rows. Vertical stripes were hand embroidered over the machine knitted stripes which could have been inserted according to the same method used to draw the diamond shapes in the Aletria sweater, but the amount of colors and stripes made the work too time consuming. The hat has more elements, but the sweater was left intentionally simplified.