Imperial War Museum (Board of Trade), Make Do and Mend, 2007.
As preocupações com a sustentabilidade ambiental que dominam a nossa época têm levado entre outros epifenómenos à revalorização de práticas caídas em desuso como a de remendar peças de roupa de forma a prolongar ao máximo o seu tempo de vida! A recuperação destas práticas, até há relativamente pouco tempo bastante comuns, tem uma das suas maiores fontes de inspiração no período da Segunda Guerra Mundial, durante o qual nas Ilhas Britânicas foi implementado um programa de racionamento de vestuário alicerçado numa campanha de propaganda que encontra hoje um estranho e inquietante eco no nosso momento histórico.
O programa Make Do and Mend (algo que se poderia traduzir como “aproveitar e remendar”) aliava noções de frugalidade e estoicismo com o apelo a uma certa inventividade. Tratava-se de remendar e reaproveitar peças de vestuário, mas também de o fazer com um certo sentido de estilo e criatividade!
Assim, com o objetivo de promover hábitos de poupança e de reaproveitamento das escassas peças de vestuário disponíveis, o Board of Trade britânico lançou então, a partir do outono de 1942, o programa Make Do and Mend ao abrigo do qual foram produzidos materiais promocionais como cartazes, publicações e uma série de panfletos com instruções práticas protagonizadas por uma personagem feminina de nome Mrs Sew and Sew que dava vários conselhos para o conserto de roupas ou aproveitamento de tecidos para os mais variados fins práticos.
Os tecidos eram fundamentais para a produção de uniformes militares e, ao reduzir a produção de roupa para civis, as fábricas podiam dedicar o seu esforço à produção de guerra. O racionamento de vestuário foi decretado a partir de 1 de junho de 1941, antecedido pelo racionamento de bens alimentares em 1940, e implementado através de um sistema de cupões que podiam ser trocados pelos bens necessários a cada família. O racionamento manteve-se até 1949, cinco anos depois de terminado o conflito.
Durante os anos da crise financeira no início deste século, o Imperial War Museum não só reeditou (em 2007) os diferentes folhetos produzidos durante a guerra em formato de pequeno livro de capa dura e numa versão fac-similada como também recuperou esta personagem e criou em seu nome uma conta na plataforma Twitter com alguns conselhos que, perante a perda de qualidade de vida que muitos estavam a experienciar, voltavam a fazer sentido.

No que diz respeito às peças de roupa de malha, os conselhos iam desde a advertência de remendar eventuais danos antes que o estrago se revelasse mais difícil ou mesmo impossível de concertar, reservar peças eventualmente feltradas pelas lavagens de forma a usar cortes das mesmas para reforçar mangas e calças, até ao desfazer das peças para usar o fio em novos projetos, para além de conselhos genéricos sobre a melhor forma de lavar peças tricotadas e protegê-las da voracidade das traças.

Como se podia ler na capa de um dos folhetos: “As malhas podem envelhecer com graciosidade. Podem continuar a ser macias, quentes e coloridas mesmo depois de usadas e lavadas várias vezes. Mas, como avisa Mrs Sew-and-Sew, deve-se cuidar bem delas de forma que não percam a forma.”
A par das competências nas áreas da costura e do tricot, remendar era visto como uma competência absolutamente fundamental de forma a permitir que as peças de vestuário durassem o máximo de tempo possível. O fio para remendos não estava sujeito a racionamento e inicialmente era vendido em novelos até as autoridades se aperceberem que as pessoas o compravam para tricotar peças de roupa e obrigarem a que fosse vendido em pequenas quantidades, enrolado em volta de uma pequena cartela. Um dos panfletos da época sobre remendos ostentava mesmo o mote:
“um bom remendo é uma verdadeira medalha de honra!”
Os tecidos, calçado e até peças de mobiliário produzidos ao abrigo do programa de racionamento eram identificados com o logo CC41, da autoria do designer Reginald Shipp, que fazia referência não só ao ano em que o racionamento entrara em vigor como ao termo “controlled commodity” (produto controlado).
Recentemente, numa homenagem particularmente emocional a este período difícil da História britânica, o designer inglês Patrick Grant inspirou-se no símbolo CC41 para criar o logo da sua original marca de vestuário; Community Clothing, um projeto pioneiro na sua missão de devolver ao tecido industrial britânico o lugar de excelência que já foi o seu, produzindo nas fábricas britânicas de uma forma ética um conjunto de peças intemporais a preços acessíveis graças a uma estratégia de controlo de custos.
Our present concerns with environmental sustainability have brought mending back in an effort to maximize our clothes’ life span! One of the main inspirations for the mending trend has been the Make Do and Mend program created in Britain during the Second World War, a clothing rationing program implemented through an advertising campaign that echoes strangely with our historical moment.
Make Do and Mend combined notions of frugality and stoicism with the call for a certain inventiveness. It was about mending and reusing garments, but also about doing it with a certain sense of style and creativity!
Fabrics were necessary for the production of military uniforms and by reducing the production of clothing for civilians factories could devote their effort to war production. Clothes rationing began in June 1, 1941, food rationing had started in 1940, and implemented through a system of coupons. Rationing continued until 1949, five years after the conflict ended.
The Make Do and Mend program was launched from the autumn of 1942 by the British Board of Trade with the aim of promoting saving habits and reusage of the scarce garments available. It consisted of a series of promotional materials such as posters, booklets and a series of pamphlets with practical instructions carried out by a female character named Mrs Sew and Sew who gave various advice for repairing clothes or using fabrics for a variety of practical purposes. During the years of the recent financial crisis, the Imperial War Museum not only reissued (in 2007) the different leaflets produced during the war as a facsimile version in a small hardcover book but also recovered the character of Mrs Sew and Sew and created an account on Twitter on her behalf with some advice that, given the loss of quality of life that many were experiencing, was again making sense.
Regarding knitted garments, the advice on the Make Do and Mend pamphlets ranged from warnings to mend any damage before it got out of control, to saving items eventually felted by washing or use in order to turn them into patches to reinforce sleeves and pants, to frogging knitted pieces in order to use the thread in new projects, as well as generic advice on how to wash knits and protect them from the voracity of moths. As you could read on the cover of one of the brochures: “Woollies can grow old gracefully. They can keep their shape. They can go on being soft and warm and colorful even after long use and repeated washings. “But,” warns Mrs. Sew-and-Sew, “you have to take care of them properly to get the best wear”.
Meanwhile, knitting became a very popular pastime during the conflict. Most woolen yarns were subject to rationing, but yarns with less than 16% animal fiber were not restricted. Knitting for those in the battle front was considered a valuable contribution to the war effort and organizations like Women’s Voluntary Service and Women’s Institutes often organized voluntary knitting meetings.
Mending was regarded as an absolutely fundamental skill in order to make garments last as long as possible. Mending yarn was not subject to rationing and was initially sold in skeins until authorities realized that people bought it to knit garments and determined it should be sold in small quantities. One of Make Do and Mend pamphlets carried the motto: “a good patch is a real badge of honor”. Fabrics, shoes and pieces of furniture produced under the rationing program were identified with the CC41 logo, designed by Reginald Ship, which made reference not only to the year when rationing came into force but to the term “controlled commodity”.
Recently, in a particularly emotional tribute to this difficult period in British history, the English designer Patrick Grant was inspired by the CC41 symbol to create the logo to his clothing brand: Community Clothing, a pioneering project in a mission to bring British textile industry back into the limelight, producing timeless garments at affordable prices thanks to a cost control strategy that doesn’t take the usual shortcut of poorly paying the work force.